Educação

Dois milhões de jovens já abandoram a escola no Brasil esse ano

Evasão escolar preocupa sobre o futuro do país

Temas como falta de transporte, gravidez, desafios por ter alguma deficiência e racismo também surgiram como justificativa para a desistência
Temas como falta de transporte, gravidez, desafios por ter alguma deficiência e racismo também surgiram como justificativa para a desistência |  Foto: Marcelo Tavares
 

Uma pesquisa encomendada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgada nesta quinta-feira (15), traz um alerta sobre o nível educacional no Brasil. De acordo com o levantamento, dois milhões de meninos e meninas de 11 a 19 anos, não terminaram a educação básica e deixaram a escola no país esse ano.

Realizada em agosto deste ano, a pesquisa informa que pessoas das classes D e E são maioria entre os excluídos no âmbito educacional, alertando que a evasão atinge os mais vulneráveis. Segundo a Unicef, 11% dos entrevistados não frequentam escola. Dentro das classes A e B, o percentual é de 4%, enquanto na classe D e E é de 17%, quatro vezes maior.

Cerca de 48% dos entrevistados afirmaram que deixaram de estudar 'porque tinham que trabalhar fora'.
  

Dificuldades

A dificuldade de aprender sobre um determinado tema também recebeu destaque nas respostas: 30% alega que deixou a escola 'por não conseguir acompanhar as explicações ou atividades'.

Em seguida, 29% informaram que desistiram porque a escola não retomou as atividades presenciais e 28% contaram que tinham que cuidar de familiares. Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do Unicef, alega que os estudantes veem a escola como uma parte importante da vida.

“Os dados mostram a importância da escola pública na vida de meninas e meninos em todo o Brasil. Os estudantes confiam na escola como espaço de aprendizagem e de interação com seus pares. Eles valorizam o esforço dos educadores e estão dispostos a retomar seu direito de aprender”, afirma Mônica.

É urgente investir na inclusão escolar e na recuperação da aprendizagem" Mônica Pinto, Chefe de Educação do Unicef
  

Evasão escolar

De acordo com o pedagogo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Luan Sávio, o aumento da miséria e da pobreza contribui para o crescimento da evasão escolar. O especialista explica que a necessidade de trabalhar para sustentar ou auxiliar a vida financeira de uma família influencia na diminuição de alunos nas escolas públicas do país.

"Lecionando em escolas públicas nos anos iniciais por uma década, me dou conta de que as famílias que mais sofrem dificuldades materiais e financeiras acabam por conseguinte tendo crianças com mais faltas. Se um percentual grande de adolescentes e jovens evadem da escola para se sustentar e para complementar a renda familiar, fica mais evidente as questões ligadas ao aumento da pobreza que criam demandas de urgência para a família", explica.

Temas como falta de transporte (18%), gravidez (14%), desafios por ter alguma deficiência (9%) e racismo (6%) também surgiram como justificativa para a desistência.

Questionados sobre mecanismos de combate à evasão, o Ministério da Educação (MEC) e o Governo do Estado do Rio ainda não prestaram qualquer esclarecimento. 

Aulas remotas

Aulas remotas atrapalham ensinamento
Aulas remotas atrapalham ensinamento |  Foto: Arquivo / Enfoco
  

O levantamento do Unicef aponta ainda que 3% dos entrevistados alegaram que as escolas mantiveram as aulas remotas. Outros 5% afirmaram ter aulas presenciais e remotas. Para Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do Unicef no Brasil, o fato atrapalha no desenvolvimento da educação.

“Não se pode mais aceitar que escolas continuem fechadas no Brasil em meados de 2022. É urgente tomar as medidas necessárias para que cada criança, cada adolescente possa estar presencialmente na escola, sem exceção”, defende Mônica.

Saúde Mental

A pesquisa revelou que os estudantes de escolas públicas do país desejam atendimentos relacionados à saúde mental dentro das unidades de ensino. Cerca de 80% dos questionados gostariam de apoio psicológico e 74% revelam o interesse por um espaço onde possam falar sobre os seus sentimentos. 

O pedagogo Luan Sávio entende que a medida seria boa para a integração corpo docente e alunos, além de melhorar os trabalhos realizados.

"Seria bom para o trabalho pedagógico e escolar uma rede multidisciplinar com professores, coordenadores educacionais, psicólogos, psicomotricistas, assistentes sociais e toda a gestão da escola  trabalhando em conjunto, como política pública. Mas, esta não é uma realidade em muitos casos, ainda que possível", completou.

Pesquisa

Os dados fazem parte da pesquisa “Educação brasileira em 2022 – a voz de adolescentes”, realizada pelo Ipec para o UNICEF. A pesquisa ouviu estudantes que estão na rede pública de ensino, e também aqueles que não completaram o ensino médio e não estão mais frequentando a escola. Foram realizadas 1.100 entrevistas com meninas e meninos de 11 a 19 anos, organizadas de modo a ser representativas da população-alvo do estudo. As entrevistas pessoais domiciliares foram realizadas de 9 a 18 de agosto de 2022. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

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